segunda-feira, 21 de maio de 2012

A Sede do Capitalismo...




*por Vinícius Barbosa de Moraes

A imagem anexa foi vista por mim em um post no Facebook e acabou se ligando a um papo informal com o amigo “Friedrich” o Engels** (não, isso não era uma ação mediúnica). Tal representação me fez relativizar alguns pensamentos e interpretações expostas nesta.


Na figura vemos os “pequenos” representando trabalhadores de diferentes frentes, pela distinção das suas vestimentas, em uma aparente tentativa uniforme de “derrubar” (?) o gigantesco e “inabalável” capitalismo.

A relativização que as aspas sugerem na palavra derrubar, tenta expor a dúvida quanto ao caráter da tentativa. Refletiria esta o desejo pela retirada do poder deste e reconstrução de um novo sistema econômico menos excludente e voltado ao atendimento das necessidades de TODOS ou apenas a busca de uma chance para ocupar lugar destacado nesse mesmo sistema?

A conversa citada com o amigo Engels o levou a uma pergunta em tom de brincadeira, sobre onde estaria localizada a sede do capitalismo. Responder Estados Unidos da América, China ou qualquer país da Europa pareceria lógico, no entanto, precipitado e não refletido. Então qual seria a resposta mais apropriada? Novamente a imagem e principalmente a dúvida gerada por ela é que trazem o cerne da resposta. É na sua, na minha e NA MENTE dos demais ocupantes deste planeta que se sedia o sistema econômico vigente. De onde saiu tal conclusão?

Façamos o seguinte, peguemos uma hipótese simples e direta. Digamos que você ou qualquer pessoa seja um ganhador(a) de algum sorteio milionário da Mega-Sena. Quem você conhece que, ao ser premiado com tal bolada, planejaria começar um negócio em que seus funcionários seriam TODOS libertos da mais-valia ou “mais fácil”, remunerados com o salário-mínimo ideal de R$ 2.329,35 segundo o Dieese***?

Ninguém é a mais provável resposta. Viabilidade econômica, redução do nível de acumulação, impossibilidade de geração de novos investimentos, dentre outras, seriam as prováveis razões apresentadas. No fim das contas é o imaginar de se perder a “chance” de ficar rico e ocupar o posto do grandão na imagem que impede esse tipo de ação. Mas donde vem esse entrave?

A questionável razão apresentada por Smith seria o “natural” individualismo humano. Questionável por razões mais que lógicas. Que tenhamos todos o instintivo desejo de alcançar melhores condições de vida é algo realmente natural e que não merece estender a discussão. No entanto, ampliar nosso conforto, acúmulo de riqueza ou qualidade de vida a qualquer preço? Aí é outra coisa e de natural a qualquer humano nada tem. Provavelmente dirão: mas Smith nunca disse isso. Realmente, não são de Smith as palavras de ordem do sistema capitalista, mas caso alguém duvide das direções deste, releia sobre conceitos como acumulação, concentração, centralização, mais-valia, investimento, suas variantes e verá a citada ordem em suas entrelinhas.

Voltando a Smith, a ação individual de investimentos que empregariam e moveriam a economia passa por todos os conceitos citados, mas deixemos Smith em paz por hora. Seguindo vertentes paralelas dessa mesma linha, muitos diriam ser o desejo de melhorar as condições de vida os motivadores desta ação, mas isso nada mais é que puro individualismo. Alguns tentariam culpar o meio, o nível de acesso ao estudo, a inveja ou qualquer outra coisa intangível.

Não mais tangível, mas de mais fácil percepção é a razão que pensadores como Hegel estudaram. É no estudo da alienação que Hegel percebe que o trabalho é a essência do homem, ou seja, é somente por meio de seu trabalho que o homem pode realizar plenamente as suas habilidades em produções materiais. Porém, quando o pensamento puro se torna pensamento sensível, visando uma realização material na forma de trabalho, nos alienamos, ou seja, nos separamos da essência pura e abrimos caminho para uma separação entre o ideal e o real. Estes novamente se unirão ao que Hegel chama de Espírito Absoluto.

Abstrato, fantasmagórico? Karl Marx também achava, mas viu nestas ideias algo interessante e que poderiam ajudar explicar as relações sociais no capitalismo, além disso, a possibilidade de desvendar um dispositivo fundamental da máquina capitalista. Para tanto, Marx voltou-se para a realidade concreta, em que os trabalhadores eram explorados em fábricas onde deixavam seus patrões cada vez mais ricos e enquanto instrumentos de acesso a essa riqueza, eles e suas famílias ficavam cada vez mais pobres. Como podemos aceitar tais relações como naturais, instintivas a seres humanos e ditos racionais?

Diferente de Hegel, que entendia a alienação como algo positivo, Marx percebe que esta, envolta nas relações de trabalho, ao invés de provocar a realização do homem, o torna escravo. Essa mesma relação, desumanizando o trabalhador e fazendo-o trocar a ideia do SER pela do TER. Tal troca minimizando o valor de sua existência ao que possui e não ao que é.

Marx apreende formas diversas para a alienação. O mesmo percebe sua presença nos formatos da religião, do Estado, do capital e como o homem se aprisiona cada vez mais nessa condição, além de se distanciar da percepção de seu enlace. No entanto, é a alienação econômica que Karl Marx compreende como básica, sendo esta dividida em: (1) trabalho como atividade fragmentada e (2) como produto apropriado por outros.

É o efeito dessa alienação sobre a mente humana que responde pelos males enfrentados por nossa sociedade e que alicerça nossas limitações de uma possível superação. Para quem duvida da direção tomada por tal afirmação e das atrocidades já cometidas em função do reles capital, sugiro pesquisar as reais motivações de conflitos como as duas grandes guerras, os pormenores obscuros do ataque a Pearl Harbor, as não menos baixas razões das duas guerras no Iraque e a mais recente (não menos absurda) atrocidade cometida no 11 de Setembro. Fato este, que em NADA se relaciona com as “informações oficiais” (?) passadas pela mídia ou aos poderes “sobrenaturais” de um árabe barbudo em sua “batcaverna”. Além claro, da guerra no Afeganistão e os recentes levantes pró-pseudodemocracia no Egito, Líbia, Síria o ódio contra o Irã e derivadas afins.

Costumo contrariar a informação oficial de que o capitalismo emerge da Revolução Industrial, pois se capitalismo se configura pela acumulação de riqueza, NUNCA houve outro sistema nesse planeta que não capitalismo. Se a riqueza era compreendida como terra, chamava-se feudalismo, se entendida como acumulação de ouro e demais metais preciosos, denominou-se mercantilismo, no entanto, se a questão é acúmulo, concentração e centralização, nada mais temos que diferentes fases e mutações de uma mesma vertente econômica, o CAPITALISMO. Sendo que nesta nova denominação, é a força de trabalho o grande vetor de expropriação para uma "nova" riqueza.

Não diferente, costumo me incomodar com a informação “seres racionais”, quando em referência aos humanos. Não que se questionem as maravilhosas capacidades de nossa massa encefálica. Porém, criaturas dominadas por coisas, vivendo por TER e não SER é um fato que não me deixa aceitar racionalidade como uma qualidade possuída em sua plenitude por tais seres.

Se um dia superaremos tal estágio pré-histórico em nossa existência sobre esse planeta é difícil prever. Se o que virá depois do capitalismo será o socialismo, nem Marx disse isso. O mesmo propunha e percebia a possibilidade da tomada do poder pela classe trabalhadora em seu tempo histórico, mas nunca determinou ou fez profecias sobre o futuro na história humana (ainda que seus contrários costumem não perceber isso).

A tomada desse poder por tal classe se mostra um tanto mais improvável nos tempos atuais. Por que somos em menor número ou de fato mais fracos? NÃO. O problema é a prisão onde nossas mentes foram encarceradas e a vontade não de nos libertarmos desta, mas sim de ganharmos a “oportunidade” (?) de aprisionarmos outros...



*Vinícius Barbosa de Moraes, discente do curso de Ciências Econômicas da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia.

**aos que não conhecem, Engels Oliveira Rocha, economista formado no curso de Ciências Econômicas da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia.

***dado referente ao mês de abril/2012 e acessado no link http://www.dieese.org.br/rel/rac/salminMenu09-05.xml

0 comentários :

Postar um comentário

Buscar neste blog

Seguidores