Composição do Projeto
sábado, 21 de abril de 2012
Reflexões sobre a curta trajetória da razão dos humanos
*por Herberson Sousa Silva (Sonkha)
Quando
perdemos qualquer membro [exceto a cabeça e o tórax] de nosso corpo, a mente
leva algum tempo para entender a ausência do mesmo e por isso continua mandando
informações neurais como se ele existisse. A memória genética extrínseca a
fisiologia humana, biológica, funciona como banco de dados permanentes e que
nem sempre ou com frequência é retroalimentada de forma a alterá-la. Há Casos
de amputação, por exemplo, em que a pessoa continua recebendo descargas neurais
em forma de choques elétricos no membro inexistente, que só existe para o banco
de dados, que não consegue desligar neurologicamente o membro amputado.
Portanto, torna-se um membro fantasma, pois, não existe mais.
Esse
mecanismo inviolável desencadeado pela psique revela que não é tão resiliente
assim, contudo, precisa de algumas drogas que atuam no sentido de isolar tais
informações, como os ansiolíticos, mas não acabam definitivamente com o
problema. Mas, as perdas causam sérios problemas ao corpo integral do ser. Isso
ocorre porque não se modifica geneticamente informações com o piscar dos olhos.
A menos que ocorra uma exposição intensa a radioatividade, como nos casos do
Césio em Goiânia que deu origem a varias crianças com deformação congênitas.
Esta
memória sensorial é a parte que guarda informações genéticas e suas
atualizações “naturais” ocorrem por ação mutável exógena, que constitui a
evolução ou involução da espécie, a antropogênese. Do hominídeo ao homo
sapiens, há vários estudos sobre o material genético coletados de populações atuais
e comparados com populações anteriores e, suas observações indicam que
ocorreram transformações no decorrer de sua própria história, isto é milhões de
anos.
Dr.
Tishkoff, da Universidade da Pensilvânia vai dizer [A New Genetic Map of Human
Origins] em seus estudos que a região dos Khoisan (Hotentotes), exatamente na
área do Kalahari, próximo ao litoral da fronteira Angola-Namíbia, pode ter sido
o “berço da humanidade”. Nesta região foi “encontrada a maior diversidade
genética, baseada num gene traçador que, comprado com a de outras populações,
indica a possível migração das populações ancestrais para o norte e para fora
da África, há cerca de 250 gerações.” (Tishkoff, 2003).
"A equipe do Dr.
Tishkoff também tem calculado o ponto de saída a partir do qual um pequeno
grupo humano - talvez uma única banda tribal de 150 pessoas - deixou a África
cerca de 50.000 anos atrás e povoaram o resto do mundo. A região é perto do
ponto médio do litoral Africano do Mar Vermelho." (Tishkoff, 2003)
O
banco de memória genético formado pelas varias gerações, segundo Dr. Tishkoff,
sofreu varias mudanças por conta dos aspectos climáticos, sociais e sobre tudo,
econômico. A busca por áreas com alimentos não coletados, clima e vegetação
levou massas humanas a deslocarem-se conforme os períodos do ciclo natural de
alimentos. Apesar de estas características evoluírem, há condições
imutáveis como alimentar, dormir, tomar banho e reproduzir. O que mudaram mesmo
foram as formas societais, individual e coletiva, como estas populações
buscaram realizar estas necessidades de manutenção de sua própria existência e
perpetuação da espécie.
"Esta população pode ter sido a migração com os
rebanhos de caça, ou escapar de uma severa seca para um clima mais ameno, mas
eles inadvertidamente iniciar um processo de colonização que mudou o mundo, e
suas espécies, de maneira profunda. Essa migração para uma região de pastos
abundantes de cereais e animais domesticáveis resultou em um legado de
ascendência humana sobre o mundo natural que, agora, pode vir a resultar no
colapso da civilização humana. É fascinante imaginar o que os membros desse
grupo estavam pensando como eles olhavam para a paisagem distante e ponderou
que o seu futuro iria realizar neste novo mundo." (Tishkoff, 2003)
Estas
mudanças devem circunscrever o objeto de estudos das ciências sociais
aplicadas, diferente das ciências cujas leis são inalteradas a partir de
intervenção humana coletiva. Dois momentos distintos separam grupos de humanos:
Nomadismo e Sedentarismo. Na primeira condição os povos não possuem habitação
fixa e mudam de lugar permanentemente. Razões mais prováveis para a condição de
transeuntes estão na busca por novas pastagens para alimentar animais
domesticados quando não havia mais pastos. O nomadismo praticou uma economia
coletora dada a sua condição in-natura. Aliado a esta questão esta a busca por
locais que apresentasse condições de proteção do clima e dos predadores.
A
agricultura não é praticada justamente porque não permanecerem no mesmo lugar
por muito tempo e não possuem limites geoespaciais ou de territorialidade,
pois, visam às melhores pastagens. Embora subsistam algumas tribos
nômades, o surgimento da agricultura vai estabelecer o homem na terra e
constituir a territorialidade.
O
sedentarismo é utilizado pela antropologia evolucionária que designa à
transição cultural da colonização nômade para permanente. Há uma transição em
que já havia acampamentos fixos. O surgimento e aprimoramentos das técnicas
agrícolas e a pecuária possibilitou a fixação das tribos ao campo, aumentando a
agregação populacional e o adensamento destes em vilas, cidades e formas mais
organizadas de vivencia coletivas por períodos mais longos.
A
modernidade faz uma ruptura paradigmática que leva a humanidade mudar o curso
de sua própria história. Se para as civilizações anteriores o curso da vida era
dado por Deus, intangível e, portanto, não factível de intervenção humana, à
civilização moderna torna o curso da vida tangível e transformável. O mundo
passa a ser objeto de varias especulações teóricas a luz de métodos analíticos
racional. Tudo se torna mensurável aos olhos de Descartes, pois, um mundo se
revela a partir de uma combinação perfeita e complexa ao mesmo tempo. A
matemática cumpre um papel central na nova forma de observar, ou, mas que isso,
de interferir no mundo.
Se
há possibilidades de mudar porque não reconstruí-lo a luz da razão. Assim
surgem as ciências sociais capazes de pavimentar este glorioso caminho para um
futuro brilhante e distante dos rudimentares hábitos dos nômades. Uma promessa
de dias melhores, mais saudáveis e tranquilos plasmou um ser bem diferente das
civilizações anteriores. O padrão universal vai unificar mundos e povos
diferentes sem se dar conta das especificidades de cada localidade.
Horários,
tempos, distancias pesos, valores vão aproximar populações tornando o mundo,
até então imerso na escuridão, em cidades com parques iluminados; transporte a
combustão vai reduzir tempo e distancias; a matemática vai desenvolver formulas
que propicia a universalização do conhecimento e o surgimento do calculo para
construção civil, agricultura, medicina, agronomia, engenharia e a tecnologia
explode o universo circunscrito ao espaço de vivencia local, levando a
humanidade a pensar padrões de produção capaz de atender pessoas em seus
lugares mais distantes.
Hoje,
centenas de anos corridos, observamos que os avanços das ciências promoveram
saltos impensáveis, a centenas de anos atrás. A máquina substituindo a força
motriz humana; a calculadora substituindo papiros e folhas intermináveis; A
distancia sendo reduzida pela força motora dos veículos; A voz projetada por
ondas longas, chegando em seu destino em tempo real em pontos equidistantes; a
cirurgia invasiva que abre o abdômen, crânio e demais órgãos animal expondo
vísceras e depois o fechamento com sucesso; a internet capaz de colocar pessoas
com interface face-a-face com som e imagem nos rincões do mundo; o avião que
faz em horas um percurso que a humanidade levaria anos; o chuveiro com água
quente, micro-ondas, elevador e tantas descobertas interessantes. No entanto,
mesmo com todos estes avanços a civilização retroage o ser humano a sua
condição inicial invertida, de predador de si mesmo, uma autofagia que levará
todo conhecimento adquirido ao holocausto da raça humana.
0 comentários :
Postar um comentário